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''Cadastro positivo vai contribuir para a redução do custo do dinheiro''

Para o CEO do bureau de crédito Quod, a novidade trará mudança de comportamento entre os consumidores e dará acesso a informações financeiras mais precisas para as PMEs

A partir de 9 de julho, entra em vigor o cadastro positivo. Além da pontuação dos consumidores segundo seu comportamento junto a instituições de crédito, também serão levadas em consideração outras fontes de informação para compor uma espécie de raio-X da capacidade financeira de cada pessoa. Anunciada há cerca de dois anos, a Quod foi montada do zero, já com o objetivo de atender a esse novo mercado. O bureau de crédito tem como acionistas os cinco maiores bancos do país — Caixa, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander — e tem Rodrigo Abreu como CEO. Muito do esforço de Abreu e seu time foi dedicado ao desenvolvimento de soluções tecnológicas que permitam um filtro mais preciso do perfil de crédito, mesmo daqueles que hoje não fazem parte do sistema financeiro, seja porque trabalham informalmente, seja porque têm seus CPFs negativados por conta de restrições. Para atender ao volume de dados que deve fazer parte da rotina da empresa, foram montados dois datacenters, além de a Quod contar com cerca de mil servidores. Mesmo com a expectativa de uma demanda enorme após a entrada em vigor do cadastro positivo, a capacidade instalada será suficiente para garantir o processamento de dados por pelo menos uma década. Além do score de crédito, a Quod vai entrar em outros segmentos, como prevenção a fraudes. A mudança nas regras do mercado de análise de risco de crédito ocorre em um momento em que a economia vai mal. Apesar de saber que há influência desse momento na decisão de tomada de crédito, Abreu acredita que esse tipo de serviço poderá ajudar a destravar a obtenção de recursos, já que vai reduzir riscos das operações.

A Quod surge da associação entre os cinco maiores bancos do país, portanto, com uma base de dados muito grande. Já sentiu a reação da concorrência?

Todo mundo vai ter que se mexer com a entrada em vigor da Lei do Cadastro Positivo, é natural. Quando tem mudança de modelo, essa movimentação já é esperada. A nossa vantagem é ter começado a operação com foco no cadastro positivo, porque, no Brasil, o foco ainda é no cadastro negativo. A previsão é de que, dentro de algum tempo, não fará mais sentido falar do cliente negativado. Essa modelagem de negativação deixará de existir. Para nós, a vantagem é que construímos nossos modelos e produtos focados no novo ambiente. Com o tempo, todas as empresas vão acabar se movimentando nessa direção.

A baixa atividade econômica do país pode refletir na demanda gerada para os bureaus de crédito, já que os consumidores e as empresas estão mais receosos?

inegável que há um impacto. Há empresas que hoje não realizam nenhuma análise de crédito por completa indefinição quanto ao futuro. A gente pensa muito em bancos e em suas operações de crédito quando fala nesse tipo de análise, mas tem uma parcela importante de demanda que poderia ser gerada pelas PMEs, mas que pagam muito caro pelas informações hoje antes de emitir um boleto, o que limita o seu acesso à consulta sobre seus clientes. Ainda assim, o setor de análise de crédito tem crescido entre 8% a 9% nos últimos anos, mesmo com a economia como está.

Como a Quod está se preparando para a virada de chave a partir de julho, quando entra em vigor o cadastro positivo?

Agora já é reta final. A estimativa para esse mercado é baseada na população economicamente ativa, uma vez que deixa de ser um serviço só para dados de contratantes de crédito, como funcionava até agora, e passa a incluir os prestadores de serviço continuado. O número é realmente estimado. São entre 130 milhões e 140 milhões de consumidores, bancarizados e não bancarizados, que têm consumo de produtos e serviços continuados, como gás e energia.

Como preparar a base tecnológica para dar vazão a essa demanda?

Já vínhamos fazendo a preparação tecnológica da Quod, que começou a ser pensada e implementada nos últimos dois anos, para operar com cadastro positivo com capacidade máxima. Isso envolveu investimentos em datacenter, infraestrutura e software. Fizemos recentemente testes de simulação para absorver capacidade de dados e foram bem-sucedidos.

O que muda efetivamente com a entrada em vigor da Lei do Cadastro Positivo?

Apesar de a lei entrar em vigor em 9 de julho, ainda falta um processo de regulação, um detalhamento que está sendo aguardado pelas instituições financeiras e que deve ser publicado nas próximas semanas. Temos procurado investir na transparência das informações para o consumidor, que terá acesso aos seus dados no nosso portal. Em todo esse processo, será muito importante a acuracidade de dados. Com a lei, só o score estará disponível para consulta sem autorização prévia das empresas de análise de risco de crédito. Qualquer outra análise detalhada precisará de autorização.

Como será a comunicação entre os bureaus de crédito?

Se um consumidor solicita a sua exclusão de um bureau, imediatamente a informação tem de ser compartilhada. Haverá uma comunicação de massa, com rádio e TV, sobre a entrada em vigor coordenada pela Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), em parceria com os bureaus. Certamente, haverá dúvidas no início, por isso, essa preocupação em divulgar as informações sobre o cadastro positivo. Todos receberão informações individuais sobre a inclusão no cadastro. Vai ser um aviso individual. Para que não haja duplicidade nessas mensagens, os bureaus estão se coordenando nesse trabalho.

Há receio entre os bureaus quanto a uma reação negativa por parte dos consumidores?

Nessa fase, é importante que a informação seja muito bem entendida por todos, que mostre que o cadastro positivo vem para beneficiar o consumidor, para proporcionar um ambiente de crédito mais saudável para todo mundo. Mas nesse movimento tem também o componente regulatório. A lei determina que seja feita a comunicação individual, que o consumidor seja avisado sobre sua inclusão no cadastro positivo. A partir de julho, ainda haverá o período de um mês para comunicar inclusão e mais um mês para disponibilizar a consulta para o mercado. Existe uma preparação grande para atender à demanda, que, certamente, será muito maior do que a atual. A principal precaução quanto a essa possível reação negativa é a informação para o consumidor, mostrando quais são os benefícios, o que ele tem a ganhar, como será analisado de forma mais justa.

O cadastro positivo terá algum impacto na inclusão financeira de uma parte dos brasileiros que hoje não consegue ter acesso a crédito, por exemplo?

Existem estudos sobre esse impacto. A ANBC trabalha com a possibilidade de inclusão de 20 milhões a 30 milhões de consumidores no país. Se chegar a essa previsão, será possível trabalhar com a expansão de crédito de mais R$ 1 trilhão. Esse valor também terá peso para ajudar a alavancar o desenvolvimento econômico, porque é o crédito que permite, por exemplo, iniciativas de empreendedores que, muitas vezes, não têm comprovação formal de renda, não têm histórico de financiamento ou acesso a crédito pessoal.

O cadastro positivo pode ter impacto também na educação financeira?

Até agora, muitas pessoas não tinham seu histórico financeiro. Agora, elas saberão que suas informações darão acesso a produtos e serviços e, por essa razão, passarão a ter mais cuidado com o seu comportamento financeiro para elevar a sua avaliação de crédito.

O custo do dinheiro vai cair, seja para pessoa física, seja para pessoa jurídica, com a entrada em vigor do cadastro positivo?

Dá para ser categórico ao afirmar que o cadastro positivo vai contribuir para a redução do custo do dinheiro. Mas não é uma bala de prata que vai resolver todos os problemas. O que o cadastro permitirá é que se reduza a assimetria das informações disponíveis hoje, com menos incertezas, portanto, com menos risco. Além disso, esse tipo de trabalho com os dados deve resultar na diminuição da inadimplência, que é um componente importante hoje da taxa de juros. As pessoas que não consumiam o crédito por achar que era caro, perceberão, à medida que forem analisadas de forma mais precisa, que poderão ter uma taxa de juros mais condizente com seus perfis.

O fato de se falar da privatização de dois dos cinco bancos — Caixa e Banco do Brasil — que integram a Quod pode levar a algum tipo de impacto na operação?

Os nossos cinco acionistas têm uma participação no negócio, mas é uma operação independente. Eles não compartilham recursos, pessoal ou estratégia com nenhum dos nossos acionistas. Com cinco competidores, tem de ser uma empresa neutra. Por isso, qualquer decisão sobre seus negócios não afetará a Quod.

"A gente pensa muito em bancos e em suas operações de crédito quando fala nesse tipo de análise, mas tem uma parcela importante de demanda que poderia ser gerada pelas PMEs, mas que pagam muito caro pelas informações hoje antes de emitir um boleto, o que limita o seu acesso à consulta sobre seus clientes”

"A principal precaução quanto a essa possível reação negativa é a informação para o consumidor, mostrando quais são os benefícios, o que ele tem a ganhar, como será analisado de forma mais justa”

"Trabalha-se com a possibilidade de inclusão de 20 milhões a 30 milhões de consumidores no país. Se chegarmos a essa previsão, será possível trabalhar com a expansão de crédito de mais R$ 1 trilhão. Esse valor terá peso para ajudar a alavancar o desenvolvimento econômico”

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