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Profissional contábil deve entender as causas da crise

Uma enorme quantidade de informações chegam até nós por todos os lados, mas como o contador interpreta o momento em que o Brasil está atravessando.

Uma enorme quantidade de informações chegam até nós por todos os lados, mas como o contador interpreta o momento em que o Brasil está atravessando. O contador e auditor independente Valtur Schimitt afirma que jamais viu o País numa situação como a atual, beirando a catástrofe. “Tenho tentado determinar as causas principais para chegarmos a esse estado, mas precisaria de um jornal inteiro para isso”, comenta Schimitt. Entre as principais estão o excesso de gasto com pessoal, o tamanho da máquina pública, a visão utópica de extinção da miséria e a ineficiência na conclusão de obras.

JC Contabilidade – Como um profissional acostumado com rotinas que visam a transparência avalia a disseminação da corrupção no Brasil?

Valtur Schimitt - Vem desde os tempos de Dom João VI, mas acredito que, nos últimos três governos, atingiu um nível de institucionalização de tal grandeza que conseguiu praticamente acabar com uma das maior petrolíferas do mundo, orgulho nacional. Não acredito que a Polícia Federal nem o Ministério Público conseguirão determinar a grandeza desse rombo.

Contabilidade – Como frear o aumento da inflação?

Schimitt - Desde os meus tempos colegiais, aprendi que a política de juros é eficiente para controlar a inflação, quando há um desequilíbrio entre oferta e procura. Quando a procura supera a oferta, aumenta-se o juro para inibir o consumo. Na atual situação, a inflação é ocasionada pelo aumento das tarifas governamentais (energia elétrica, água, combustíveis etc.) e impostos, os quais se refletem diretamente no preço dos produtos. E não adianta aumentar juros, pois esta inflação não é ocasionada pelo desequilíbrio entre oferta e procura. O aumento dos juros, ao invés de reduzir, aumenta mais a inflação.

Contabilidade – Um dos principais problemas é que o governo tem altos gastos?

Schimitti – O mau emprego do dinheiro público. Aqui, poderíamos dividir em várias frentes. Vou considerar apenas as principais. A primeira é o excesso de gasto com pessoal. Um País que tem 39 ministérios já dá uma ideia do desprezo do poder público pela arrecadação de tributos, através do suor dos empresários e do povo. Some-se a isso os cargos em comissão, funcionários- -fantasma, viagens desnecessárias e empreguismo. O segundo ponto é a estrutura administrativa e política. Não se pode admitir que municípios com pouco mais de 1 mil habitantes, tenham quase a mesma estrutura política e administrativa de municípios com mais de 100 mil habitantes. São municípios que nada produzem e para pagar seu prefeito, vereadores, secretários, funcionários em cargo de confiança, se utilizam do Fundo de Participação dos Estados e Municípios.

Contabilidade – Quais seriam as alternativas?

Schimitti – É urgente a necessidade de modificação da estrutura política e administrativa do País. A terceira frente é a visão utópica (para não dizer eleitoreira) da extinção da miséria. Um dos maiores engôdos desse País é a visão de que a miséria será extinta com o Bolsa Família. Durante todo o governo petista, acredito que centenas de bilhões de reais tenham sido distribuídos com essa finalidade. Se, num determinado momento, o governo não tiver mais dinheiro para distribuir, teremos mais miseráveis, e ainda por cima revoltados. Se o governo tivesse usado esse dinheiro para gerar empregos, alfabetizar e preparar esse pessoal, talvez não extinguisse totalmente a miséria, mas haveria uma grande redução, o governo estaria arrecadando impostos, e não precisaria estar se utilizando de pedaladas fiscais para pagar o bolsa família, motivo suficiente para votar o impeachment da presidente da República. Por último, vêm as obras inacabadas. Uma obra inacabada não representa prejuízo apenas pelo valor aplicado, mas pelo fato de que raramente são reiniciadas.

Contabilidade – Mas há segmentos que vêm lucrando com a crise...

Schimitti - Desde que veio a público a real situação do País, os banqueiros mudaram totalmente a sua estratégia. Em vez de apoiar a classe empresarial, que estava precisando investir ou obter empréstimos para cumprir com seus compromissos operacionais, os banqueiros, com receio de eventuais “calotes”, somente estão financiando com garantias reais, alijando do mercado financeiro milhares de empresas, que, por falta de recursos, tiveram que pedir recuperação judicial ou falência direta, arrastando consigo milhares de outras empresas. Os bancos, por sua vez, preferiram emprestar o dinheiro para o governo, que embora não pague os mesmos rendimentos os bancos sentem mais segurança. O que os banqueiros esquecem é que a arrecadação federal está reduzindo em volumes nunca vistos e a tendência é que reduza ainda mais, pois quem mantem o governo e os próprios bancos é a classe empresarial e, no momento em que essa está sendo dizimada, teremos um verdadeiro dominó, caindo pedra sobre pedra. É de se perguntar: quando se esgotarem totalmente os recursos do governo, não seria de se esperar que o mesmo adote uma moratória interna? Eu temo por isso, mas não duvido. E aqueles que acreditaram no governo e abandonaram a iniciativa privada com receio de levar alguns calotes, mas salvariam o resto, como ficarão?

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