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A colaboração é a nova chave da competitividade

O avanço das tecnologias digitais e da conectividade criou as condições necessárias para que a tendência de colaboração aflorasse, especialmente entre os jovens

A colaboração sempre foi vista como uma bobagem no mundo dos negócios. Uma ingenuidade em um ambiente no qual prevalece a competição, a fria lei do mais forte. Esta realidade ainda é dominante, mas está com os dias contados.

O avanço das tecnologias digitais e da conectividade criou as condições necessárias para que a tendência de colaboração aflorasse, especialmente entre os jovens, numa clara e cíclica reação aos exageros criados pelo modelo mental anterior. Ganhou aceleração, assim, a economia do compartilhamento ou colaborativa.

Não se engane. Esta lógica de colaboração não se resume a negócios marginais ou formas alternativas de burlar os padrões comerciais vigentes, como o empréstimo de bens e serviços (que tem como essência a louvável racionalização do consumo).

Nos últimos dois anos, seus princípios passaram a inspirar empresas novas e outras nem tanto no desenho de seus negócios. A colaboração aparece especialmente na busca de soluções para problemas comuns, como a reciclagem de produtos e embalagens, ou na criação de espaços de inovação e empreendedorismo.

A empresa chilena Triciclos, por exemplo, que iniciou no ano passado suas operações no Brasil, realiza a gestão de resíduos pós consumo ao mesmo tempo em que educa o consumidor para que faça melhores escolhas. Seu modelo prevê a instalação de pontos de coleta por meio da parceria entre varejistas, grandes lojas que fornecem a infraestrutura, e marcas de bens de consumo, que financiam a operação. Sim, marcas, no plural. Muitas vezes a viabilização do chamado Ponto Limpo tem a colaboração inclusive de marcas concorrentes, como Coca-Cola e Pepsi.

É bem verdade que a colaboração entre empresas que concorrem no mesmo segmento ainda é esporádica. A gigante química alemã Basf desenvolveu desde 2012 uma metodologia para avaliar todos o seu portfólio segundo macrotendências de sustentabilidade, como crescimento e envelhecimento do população global e urbanização.

Com esses parâmetros, passou a avaliar quais produtos contribuíam para um futuro melhor e quais precisavam de um plano de ação imediato. A melhor parte da história foi que a Basf abriu a metodologia para seus concorrentes em um seminário na Alemanha. Afinal, pragmaticamente, se toda a indústria adotar padrões semelhantes e sustentáveis a competição fica equilibrada e, sobretudo, beneficia-se a sociedade que ganha uma química mais conectada com a solução dos problemas da vida moderna.

Por sua vez, a emergente marca de automóveis elétricos americana Tesla foi ainda mais longe. Reconhecida pela alta tecnologia no desenvolvimento de baterias, elemento-chave no projeto dos carros elétricos, a companhia liberou todas as suas patentes em junho do ano passado para a concorrência.

Elon Musk, fundador da Tesla, explicou no comunicado Todas as nossas patentes pertencem a você: “Nós acreditamos que a Tesla, outros fabricantes de carros elétricos e o mundo se beneficiarão de uma tecnologia comum e de rápida evolução”. Musk já havia dito que seus adversários não eram os outros fabricantes de carros elétricos, mas o combustível fóssil.

Embora aparentemente isolados, esses exemplos de empresas pequenas, médias e grandes têm em comum uma ação propositiva de utilizar a colaboração como impulsionador do próprio negócio. Ao contrário do padrão dominante no qual a colaboração somente aparece em iniciativas setoriais intermediadas por associações, federações, sindicatos ou ONGs.

Trata-se de uma quebra de paradigma em resposta a um ambiente de negócios que exacerbou a competição ao ponto de gerar efeitos colaterais bem conhecidos: a cobrança por resultados de curto prazo, obtidos a qualquer custo, mesmo que coloquem em risco as bases do próprio negócio.

Algumas empresas já perceberam que, num futuro bem próximo, a colaboração, nas formas que conhecemos e que ainda nem imaginamos, será uma alavanca da competitividade nas empresas. Em outras palavras: somente será competitivo quem for colaborativo.

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