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Empresas deixam de investir para fazer caixa

Incertezas com a economia global e dívidas em dólar deixam empresas mais cautelosas

Fonte: EstadãoTags: Marcelo Rehder Márcia De Chiara

A disparada do dólar, que passou de R$ 1,56 no fim do segundo trimestre deste ano para R$ 1,85 no fechamento do terceiro trimestre, elevou as dívidas atreladas à moeda americana e derrubou o lucro das empresas com ações negociadas em bolsa. A mudança levou as companhias a adotar um conservadorismo financeiro que resultou em corte e adiamento de investimentos para reforçar o caixa.

A Suzano, maior fabricante integrada de papel e celulose da América do Sul, por exemplo, postergou do primeiro semestre de 2012 para o segundo semestre de 2014 a decisão de compra de equipamentos da nova unidade de produção de celulose do Piauí. Com isso, o início de operações, anteriormente previsto para 2014, passa a ser em 2016.

"A decisão foi tomada levando em consideração a inflação de preços das commodities metálicas (aço, alumínio, cimento etc) e apreciação do dólar ante o real", explica o presidente da Suzano, Antonio Maciel Neto.

O executivo informou que a empresa manterá o ritmo de investimentos previstos para este ano, de R$ 3,5 bilhões, incluindo o projeto da nova fábrica de celulose no Maranhão, que deve entrar em operação no fim de 2013.

A escalada do dólar no terceiro trimestre elevou o endividamento da Suzano, que teve prejuízo líquido de R$ 425,564 milhões no período. "Com R$ 3 bilhões em caixa e um horizonte de liquidez de 28 meses, a Suzano não enfrenta problemas de alavancagem no curto prazo", diz Maciel.

Boa parte da dívida em dólar, referente à emissão que a empresa fez no ano passado de US$ 650 milhões, será paga em 2017. Para resolver a alavancagem no médio e longo prazos, segundo o executivo, estão em andamento a venda da participação de 17% da Suzano na Usina Hidrelétrica Amador Aguiar, localizada na bacia do Rio Araguari, entre os municípios de Uberlândia e Araguari(MG), e a venda de algumas terras não utilizadas no Estado de São Paulo. A empresa também estuda a venda de ativos na área de papel e participações em novos projetos de celulose.

A Fibria, fabricante de celulose, anunciou redução de investimentos em R$ 201 milhões este ano e planeja um corte adicional para 2012. A empresa ressalta que busca aumentar a liquidez de ativos não estratégicos.

"O caixa agora é o rei", diz o diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) José Ricardo Roriz Coelho. "Com a crise, houve um redirecionamento dos recursos. O dinheiro que era destinado ao investimento passou a ser usado pelas empresas como reserva de caixa, porque ninguém sabe o tamanho dessa crise nem quanto tempo ela vai durar."

A ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo, é outra que suspendeu temporariamente a expansão que estava em andamento da fábrica em João Monlevade em Minas Gerais, onde são produzidos aços longos para a indústria automobilística e para a construção civil.

Também adiou um projeto, que ainda não tinha saído do papel, de uma nova linha de aços planos galvanizados da ArcelorMittal Vega, em Santa Catarina. A empresa atribui a mudança de planos à demanda por aço nacional menor do que o previsto e à desaceleração da economia internacional.

"A crise internacional afasta investimentos de aumento de capacidade, principalmente para exportação", afirma Roriz Coelho, da Fiesp. Ele observa que não tem sentido investir em aumento de capacidade de produção para um mercado doméstico que será ainda mais disputado pelas companhias estrangeiras.

Petroquímica. Na indústria química, ainda não há informações consolidadas e atualizadas sobre os investimentos, depois da mudança do cenário internacional. O último dado disponível da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), de setembro de 2010, indicava que seriam investidos US$ 26 bilhões até 2015. Fernando Figueiredo, presidente executivo da entidade, informa que novo levantamento já está sendo feito para atualizar os investimentos previstos para o setor.

Apesar de não dispor de dados atualizados, ele enfatiza que os projetos são de longo prazo, isto é, com maturação prevista entre três e cinco anos. Por isso, Figueiredo não acredita em alterações bruscas nos planos.

No entanto, a direção da Braskem, produtora de resinas plásticas, admitiu, na divulgação do balanço do terceiro trimestre, que daqui para frente será cautelosa, administrando o ritmo de investimentos e a capacidade de retorno dos projetos. É uma indicação de que a crise pode afetar projetos de longo prazo da petroquímica.

Serviços. Também as empresas prestadoras de serviços já consideram que a demanda pode enfraquecer. A TAM, por exemplo, revisou seu plano de frota para 2012. A empresa encerrará o próximo ano com 159 aeronaves, e não mais com as 163 previstas no plano anterior.

A companhia receberá 13 novos aviões da família Airbus A320 e devolverá 13 hoje em operação. A empresa não vai renovar quatro contratos de leasing de aeronaves, modificando o plano original de receber 13 equipamentos novos e devolver nove.

"O ajuste é necessário para assegurar a rentabilidade do negócio, num contexto de maior racionalidade do mercado", diz Líbano Barroso, presidente da TAM. O prejuízo foi de R$ 620 milhões no terceiro trimestre.

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